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segunda-feira, 5 de março de 2012

Laboratório ao ar livre
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O dia em uma casa de Uberlândia, Minas Gerais, começa com uma sinfonia de bichos. Aves e micos são vizinhos famintos que aparecem para mais um banquete. Um imenso pomar no coração do Brasil é a chácara de um dos maiores especialistas em alimentos do país: doutor Warwick Estevam Kerr.

Assim como os animais, ele e a mulher acordam cedinho para buscar no quintal as frutas do café da manhã. Variedade e fartura para ter saúde de ferro. Aos 84 anos, o pesquisador se orgulha: só vai ao médico para exames de rotina.
Sessenta e nove espécies de plantas e frutas vingaram no solo fértil deste enorme laboratório ao ar livre. A experiência mais recente do nosso supercientista promete ser o fim de muitas espetadas. Vem aí o pequi sem espinho.
"É o único pé no mundo", afirma o agrônomo, que encontrou a árvore rara numa expedição ao sul do Pará. Levou só um galho para Minas Gerais, e dele retira cascas que são coladas nos pés da outra fruta, que tem espinho. Vinte e três mudas já pegaram. É o início da primeira safra.
"Eu espero que dentro de oito a dez anos a gente tenha de 5 a 10 mil pés desse pequi. É um avanço grande, porque somos o povo que mais come pequi no mundo. Mesmo quem gosta do sabor não gosta de ser espetado. O pequi vai se transformar numa fruta de mercado", ressalta doutor Kerr.
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Moringa: fonte de vitamina A
Talvez tão popular quanto à moringa, a árvore que é o xodó do cientista. Uma preciosidade riquíssima em vitamina A. "Surgiu na África, foi para a Europa e, em seguida, para os Estados Unidos e para a Ásia. Dos Estados Unidos passou para o Brasil", conta doutor Kerr.
Presente de um amigo americano. "Veio dentro de uma carta. Tinha oito manchas de óleo, mas eram oito sementes. Eu plantei, e as oito nasceram", lembra o pesquisador. Depois viraram dezenas, centenas, milhares de pés. Replantando a espécie, o pesquisador fez das folhas vitaminadas remédio para crianças.
"A gente conseguiu passar a moringa para o Norte e o Nordeste do Brasil, com cerca de um milhão de sementes plantadas mano a mano por um grupinho. Fizemos um teste numa escola da Amazônia onde nenhum aluno conseguia enxergar o quadro negro. E deu certo, de um dia para o outro, porque a moringa tem betacaroteno, que são duas moléculas de vitamina A. Não tem gosto bom, mas não tem gosto ruim. E o beneficio é muito grande", ressalta doutor Kerr. Segundo o pesquisador, o ideal é que uma pessoa coma o equivalente a um punhado de folhas duas vezes por semana.
Cem mil mudas de moringa são doadas todo ano pelo cientista. Os primeiros pés foram plantados nas creches, escolas, quintais das casas, mas principalmente nas ruas de um bairro de Uberlândia. Numa esquina, por exemplo, tem uma. Em menos de um ano a árvore fica com cerca de três metros de altura e cheia de folhas à disposição de qualquer um. Segundo o professor Kerr, um pé é suficiente para até dez famílias, ou seja, basta uma muda em cada quarteirão.
Pelo menos duas vezes por mês, a dona de casa Maria Aparecida Moraes Pires vai até o canteiro mais próximo e enche as mãos. "As espécies que encontramos aqui foram os próprios moradores que plantaram nos canteiros. Estamos pleiteando distribuir essa idéia para mais moradores. Tem gente que passa aqui e não sabe o que essa árvore significa", diz ela.
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A merendeira Eleusa Maria dos Santos preferiu plantar a árvore no quintal de casa. "Nós tínhamos problemas de pele, sistema imunológico descontrolado, queda de cabelos. Hoje eu percebi pela minha própria família que isso acabou e que a gente não tem mais problemas com farmácia. A moringa se tornou nosso grande remédio", conta ela.
A moringa produz folhas o ano todo. Solidários, os vizinhos doam o excesso de produção para a Pastoral da Criança. No suco, no bolo ou no arroz, moringa cai bem em muitas receitas. "Com a moringa, a gente consegue fazer omelete, enriquecer bolos, geléia de beterraba, sopas e mingaus. Existe uma variedade de receitas. Dá um gostinho um pouco amostardado, mas fica muito bom", elogia a professora Divina de Moraes Dias.
Tão bom que as crianças de uma creche agora limpam o prato. Tanto apetite mexeu com os ponteiros da balança. "Deu 12,1 kg, está dentro do peso normal para a idade dela", avaliou uma voluntária da Pastoral. "No mês anterior ela estava com 11,99 kg, e mesmo doente conseguiu ganhar esses gramas".
Aos 6 anos, Andressa, antes desnutrida, fez uma última avaliação. Está com quase 20 quilos. Não precisa mais de acompanhamento. Vitória que a mãe atribui aos incríveis poderes da moringa.
"Ela é forte, tem muita vitamina. Para dar resultado, temos que utilizá-la sempre. Ela era bem miudinha, cabia na palma da minha mão", lembra a dona de casa Carlequiane Dias.
Para nosso superpesquisador, não há satisfação maior do que salvar a vida desses brasileirinhos. "Fico satisfeito, é minha obrigação. Várias coisas tenho feito por me sentir obrigado a devolver ao povo brasileiro a educação gratuita que tive na Universidade de São Paulo. Esse povo é bom demais. Tem gente que não quer fazer nada por ele. Eu quero", conclui doutor Kerr.